Depois de uma gestação de 12 anos, ontem nasceu a UNESPAR

Governador Beto Richa e o Reitor Carlos Aleixo na solenidade de assinatura do decreto de credenciamento da UNESPAR. Foto: Arnaldo Alves / ANPr
Governador Beto Richa e o Reitor Carlos Aleixo na solenidade de assinatura do decreto de credenciamento da UNESPAR. Foto: Arnaldo Alves / ANPr

Desde 2001 o governo do Paraná vem lidando para resolver o problema das faculdades “isoladas”, ou seja, aquelas que não pertencem a nenhuma universidade. O assunto envolve Ensino Superior, Pesquisa e desenvolvimento regional, uma vez que as “isoladas” estavam distribuídas por Curitiba, Paranaguá, União da Vitória, Campo Mourão, Apucarana e Paranavaí e, através destas posições geográficas alcançavam quase todas as regiões do estado.

A maior parte desta longa novela eu já descrevi por ocasião da votação do projeto de Lei na Assembléia Legislativa. O que aconteceu depois foi o parecer favorável do Conselho Estadual de Educação (que saiu em novembro), o que tornou possível a assinatura do decreto pelo governador criando oficialmente a nova Universidade. Isso aconteceu ontem, dia 4 de dezembro, no Palácio Iguaçu, com a presença de várias autoridades: o governador, o secretário de Ensino Superior, o reitor da UNESPAR, os diretores de todos os campi e membros da comunidade acadêmica.

O portal de informações do governo tem a notícia, com fotos, dentre as quais saiu a que ilustra este post. Lá temos a informação de que a UNESPAR já surge como a 3ª maior do estado, com 12.600 alunos, 800 professores e 70 cursos de graduação.

Cruzando esse dado da notícia com as informações da página 4 do relatório de gestão 2012 da Secretaria de Ensino Superio do estado (disponível aqui) temos que a UNESPAR é mais do que a terceira maior: representa 1/4 do total de cursos de graduação, 10% do total de alunos e 11,5% do total de professores do sistema de Ensino Superior do Estado.

Mas é também uma instituição que nasce com muitos problemas para resolver, o que resultará numa tarefa hercúlea para o barbudo da foto acima e para os operários do ensino que militam nesta instituição, como este que vos escreve.

Entre os principais estão as deficiências de quem se acostumou a ser “isolada” por tempo demais:

  • a estutura física é precária em todos os agora campi, mas é especialmente desesperadora em Paranaguá e União da Vitória cuja estutura física é totalmente inadequada. Estas duas sedes já possuem terrenos para construção de novos prédios, o que deverá acontecer a médio prazo, à medida em que houverem os recursos plenejados para investimentos, que são poucos mas podem resolver algo em esforço contínuo. Um pouco pior é a situação da EMBAP, que é hoje um dos campi de Curitiba: não tem sede, e vive espalhada em 3 prédios alugados. Seu prédio tradicional possui projeto de reforma, mas o último orçamento era superior à verba para investimento de toda a UNESPAR, o que inviabiliza qualquer iniciativa neste sentido.
  • acostumadas a pensar pequeno quando eram instituições isoladas, as sedes que agora são campi universitários possuem poucos professores devidamente qualificados, e todos dão aulas demais e fazem pouca pesquisa. Para virar Universidade de fato a UNESPAR vai precisar ficar mais parecida com o conjunto do Ensino Superior do estado: somos hoje 70 cursos de graduação em 285, mas apenas 2 mestrados (que acabam de começar) em um universo de Strictu Senso que comporta 126 mestrados e 47 doutorados.
  • a relação professor/aluno é um pouco mais baixa mas pode ser um problema se pensarmos o peso que tem os mestrados e doutorados nesta questão (cursos de graduação tem turmas muito maiores) – 17,6 alunos por professor no conjunto do estado contra 15,8 na UNESPAR.
  • o pior é o pequeno número de agentes do quadro técnico administrativo, sem os quais uma universidade não funciona pra valer. As grandes como UEL e UEM tem mais agentes do que professores, mesmo se lembrarmos das estruturas pesadas em termos de material humano como os hospitais universitários. Mas a relação de 1 agente para cada 3 professores que verificamos na UNESPAR é completamente insana. Significa que a UNESPAR mal e mal funciona, e só quem já estudou ou trabalha em algum dos campi sabe bem o que é isso
  • com toda esta precariedade estrutural, quem mais sofre, é claro, são os alunos: instalações físicas inadequadas, falta de professores, currículos defasados são uma constante. Mas o pior mesmo é a falta de atendimento administrativo adequado, e a total falta de assistência estudantil: nada de alojamento nem restaurante universitário em nenhum dos campi e pouquíssima participação nos programas que trazem bolsas de apoio aos estudantes (seja em pesquisa, extensão ou permanência estudantil)

Some-se a este quadro desolador a situação total de penúria financeira de um estado que já tem universidades demais para o seu tamanho e que tem uma gestão financeira problemática por uma sequência muito longa de governos (o que também não é muito diferente de outros governos estaduais). A folha de pagamento pesa muito e os aposentados mais ainda. Faltam recursos para investimento e até o custeio básico das atividades do estado está comprometido. E o problema é que em Universidades o investimento e o custeio são demandas importantes, mas o pessoal é mais ainda. Professores universitários não chegam a ser tão caros como juízes, procuradores, fiscais da receita, oficiais da PM e outras carreiras estaduais, mas em um conjunto de 7 mil professores acaba sendo uma despesa alta.

Apesar dessa situação desesperadora em que nasce a UNESPAR, a gente ainda está muito otimista. É que ser universidade nestas condições é bem ruim, mas continuar não sendo universidade seria totalmente pior (é só por isso que as comunidades acadêmicas engoliram o absurdo da violência que foi a determinação da localização da reitoria pelo governador).

E para quem está como eu, começando na carreira (apesar dos 40 anos recém completos eu só tenho 5 como servidor público do Ensino Superior), as perspectivas são muitas. A gente vai passar anos trabalhando como presidiários chineses (o que sempre fiz, mas agora com salário um pouco melhor e estabilidade de emprego) mas vai ver o resultado de tudo o que fizermos porque, pode esperar, esta UNESPAR ainda vai dar muito o que falar.

Ao menos nas áreas de artes, que estão concentradas nos dois campi de Curitiba (mas que vão virar uma coisa só num dia não muito distante) a qualidade do corpo docente permite sonhar alto, numa área que ainda é pouco consolidada na vida acadêmica brasileira como um todo. Basta que se diga que o estado do Paraná (incluindo as instituições estaduais, federais e privadas) ainda não tem nenhum mestrado na área de artes e apenas um na área de música.

Então é isso aí: a UNESPAR tem os problemas de um parto muito longo e doloroso, nasce meio raquítica e deformada, mas tem muito espaço para crescer. No médio prazo, pode se tornar a principal universidade estadual, por seu alcance geográfico e por sua presença na capital. Vai depender do trabalho de todos nós e do apoio da comunidade. Se dependesse dos ótimos alunos que sempre tivemos já estaríamos muito na frente também.

 

 

Comentários

Uma resposta para “Depois de uma gestação de 12 anos, ontem nasceu a UNESPAR”

  1. Avatar de Allan Kolodzieiski

    Boa tarde André,
    Parabéns pelo texto. Um olhar sempre muito claro e objetivo das coisas. Apenas pergunto uma coisa: gostaria de entender melhor, da sua parte, a questão da localização da reitoria, como citado no texto.

    Grande abraço
    Allan K.