Assisti poucos concertos esse ano. Tempo escasso, dedicado principalmente aos compromissos familiares e profissionais.
Entre os principais concertos que perdi, o que mais lamento foi não ter ido a nada da III Bienal Música Hoje. Ocorreu entre 14 e 22 de agosto, com uma programação interessantíssima.
Também não assisti nada da Orquestra Sinfônica do Paraná. Deve ter tido coisa interessante. Mas o meu tempo foi escasso, e a minha empolgação ainda menor. É triste ver um conjunto entrar em decadência logo após atingir seu auge, e tudo por não haver política pública e interesse em manter uma programação digna. Acho que agora a Orquestra vai precisar voltar a convencer seu público, depois de a direção do teatro jogar fora a boa experiência dos anos 2011-2013.
Pelos mesmos motivos pessoais assisti pouco ou nada da Camerata. Mas aqui ocorre o contrário: mesmo sem receber o devido apoio financeiro da prefeitura, a programação vem mantendo o nível ou melhorando, e a qualidade técnica é notavelmente ascendente. Ficou claro isso pra mim no concerto de encerramento, para o qual escrevi uma crítica:
Emmanuelle Baldini e a Camerata Antiqua de Curitiba: O Messias de Haendel
O outro concerto que assisti foi o que fiz palestra. Regido por Rodrigo de Carvalho (que vem fazendo ótimo trabalho sempre que rege aqui), teve Villa-Lobos, Copland e Bártok. Sempre gosto das apresentações da Orquestra de Câmara de Curitiba quando faz música do século XX, esse foi mais um concerto em que eles acertaram bastante. Acabei não escrevendo comentários sobre o concerto nem publicando as anotações da minha palestra (como fiz aqui em 2014).
Que o ano seria fraco de idas a concertos e críticas escritas já ficou evidente desde o início. A sempre boa e diversificada programação da Oficina de Música não acompanhei quase nada. Escrevi crítica sobre o concerto do Collegium Cantorum com a Missa de São Sebastião de Villa-Lobos. Infelizmente acho que o CD não ficou tão bom quanto a apresentação ao vivo. Gravar música de concerto não é nada fácil mesmo.
Acho que a melhor oportunidade de ouvir concertos que aproveitei este ano foi ter participado no II Festival de Música Contemporânea Brasileira, que foi dedicado a Edino Krieger e Gilberto Mendes, provavelmente os maiores compositores brasileiros vivos. Era muita coisa boa, palestras, debates, comunicações e concertos. Tentei fazer um apanhado geral neste texto:
Um balanço do 2º Festival de Música Contemporânea Brasileira
E escrevi críticas específicas para 2 concertos:
Thiago Kreutz e a obra para violão de Edino Krieger
Victor Hugo Toro e a Sinfônica de Campinas: o concerto de encerramento do FMCB
Fiquei realmente muito impressionado com o trabalho de Victor Hugo Toro com a orquestra.
Outra impressão muito positiva foi assistir à Opereta Marumby (1928), de Benedito Nicolau dos Santos. Esse compositor foi um importante teórico musical no Brasil, injustamente desconhecido nos nossos dias. Nunca tinha ouvido nada dele, e o resgate dessa peça confirma a importância do trabalho musicológico que quase não se faz no Brasil. Tanta obra boa precisando ser apresentada, o que depende quase sempre de encontrar partituras invariavelmente mal preservadas – quando não totalmente perdidas.
No caso de Marumby, me parece que o trabalho de pesquisa (bem como a produção) foi feito por Gehad Hajar. Destaque também para Renata Bueno no papel de “Rainha da Boina”. Agora, o sucesso indiscutível nesta peça é para a entrada dos “caipiras”, representados em cena pela Orquestra Rabecônica do Mestre Aorélio, que encantou o público com seu fandango.
A apresentação fez parte do I Festivel de Ópera de Curitiba, que teve também uma apresentação de Sidéria de Augusto Stresser, que infelizmente não pude assistir.
Com pouca chance de assistir à programação, escolhi apenas coisas que eu tinha certeza que seriam boas. De modo que é difícil eleger o melhor concerto que assisti no ano. Do ponto de vista técnico. Porque emocionalmente pra mim o melhor concerto foi a seleção de cenas de mini-óperas que o Papo Coral apresentou no edital Ópera Ilustrada da Fundação Cultural de Curitiba.
Minhas crianças cantam no coral, por isso sou suspeito. Que é mais do que corujice minha pode ficar confirmado pelas opiniões de outras pessoas que assistiram à apresentação sem ter filhos no coral.
Além do ótimo grupo regido por Cristiane Alexandre, uma boa seleção de trechos (Dueto dos gatos de Rossini, L’enfant et les sortilèges de Ravel, Il maestro di musica de Pergolesi e Der Schulmeister de Tellemann) a fantástica direção de cena de Carlos Harmusch e o ótimo conjunto instrumental dirigido por Clenice Ortigara. Ver crianças participando de uma apresentação em tão alto nível artístico não é coisa comum. Destaque também para a participação de Claudio de Biaggi e para a execução de Clenice Ortigara, que impressionou tanto no piano nas peças de Ravel como no cravo nas peças de Tellemann.
Finalmente, não é bem um concerto, mas também tem valor musical e emocional pra mim. Eu já tinha ido a um coquetel de lançamento do incrível disco Próximo, último lançamento do Grupo Fato, que dispensa apresentações.
E este ano eles foram conversar pra fazer um show na FAP, onde trabalho. Ajudei a organizar algumas partes, principalmente o edital que selecionou alunos para participarem do show. A incrível qualidade descoberta no trabalho dos alunos deu alegria demais para todos nós. Lucas Ribeiro, Josimar Artigas e Rafael Bueno participaram como gente grande, e tiveram suas composições intercaladas com o trabalho do Grupo. A apresentação foi muito bonita, e muito marcante pra quem estava lá. Descobri, no show, que muita gente no Fato foi aluno na FAP.
Um abraço e um agradecimento aos amigos Ulisses Galetto e Grace Torres. O disco dá pra ouvir no Soundcloud, e no Spotify. E a melhor música provavelmente é Indivídua – não deixe de ouvir.
Não foi tudo que assisti, mas espero que tenha lembrado dos mais importantes.
P.S. Veja também os outros textos desta série:
Retrospectiva 2015: filmes e séries
Retrospectiva 2015: os concertos que assisti e os concertos que não assisti
Comentários
Uma resposta para “Retrospectiva 2015: os concertos que assisti e os concertos que não assisti”
[…] Escrevi um texto estes dias sobre os melhores concertos que assisti e que não assisti em 2015. Agora me lembro que talvez o concerto mais importante que não assisti foi o que estava programado […]