A FAP está com as atividades acadêmicas paralisadas. Tem tanto assunto bom pra eu escrever aqui e eu não tenho tempo. E acabo tendo que vir falar de uma desgraça dessas. Lamentável.
Desde a última quarta-feira, dia 9 de dezembro, as empresas terceirizadas suspenderam os serviços que prestam ao Campus de Curitiba II da UNESPAR (FAP). Isso inclui serviços de limpeza, segurança e técnicos que operam equipamentos.
Isso ocorreu exatamente no meio das apresentações de TCC e provas públicas. Que no caso dos cursos de Teatro e Dança são feitas por meio de espetáculos para os quais a atuação dos técnicos é fundamental.
Que uma faculdade pública possa ter sua vida acadêmica paralisada dessa forma por empresas terceirizadas diz muito sobre a opção pela precarização adotada por sucessivos governos no estado do Paraná, e no Brasil de um modo geral.
O caso da UNESPAR é muito mais grave, porque as antigas faculdades isoladas estaduais foram reunidas numa universidade multi-campi espalhada por diferentes regiões do estado, sem que tenha sido planejada NENHUMA ação para dotá-la da estrutura necessária para o mínimo funcionamento.
Um comparativo da UNESPAR com outras universidades estaduais mostra o tamanho do enrosco que é fazer funcionar uma universidade COMPLETAMENTE SEM ESTRUTURA. Isso fica visível nos dados do Censo do Ensino Superior disponibilizados no sítio da Secretaria Estadual. Estou fazendo um estudo sobre estes números, e vou colocar aqui no blog para comparação, mas por enquanto posso adiantar alguns números que resumem tudo:
*a UNIOESTE tem 13,2 professores para cada 100 alunos de graduação, a UEL 12,6 e a UNESPAR apenas 7,3.
* mas a maior distorção está no número de agentes universitários – a UEL tem 2,2 agentes para cada professor, a UEM 1,7 e a UNESPAR apenas 0,16. Isso mesmo – 0,16.
* a UEL tem 27,7 agentes universitários para cada 100 alunos de graduação, a UEM 17,7 e a UNESPAR apenas 1,19. Isso mesmo – 1,19.
* a UEL tem 61,7 agentes universitários por curso de graduação, e a UEM 44,2. Se considerarmos os cursos de mestrado e doutorado, a UEL tem 31,6 agentes por curso, a UEM 22,9. A UNESPAR tem apenas 2,01. Isso mesmo – 2,01.
Ou seja, além da estrutura física completamente inadequada, temos uma situação impossível de falta de funcionários do corpo técnico administrativo. Sem isso uma universidade não funciona.
Tendo esses números em mente, dá para entender melhor a carta escrita pelo Conselho de Campus no dia em que decidiu pela suspensão das atividades, documento que está neste link.
Do mesmo modo, pode-se dizer do orçamento de custeio das universidades. É prática dos governos reduzir as despesas de custeio, algo louvável do ponto de vista da administração do orçamento público. Mas é uma medida que não pode ser tomada indiscriminadamente, sem estudo das realidades específicas.
No caso da UNESPAR, o congelamento do custeio se dá num patamar MUITO ABAIXO do praticado nas demais universidades, já consolidadas. O que piora muito com as medidas de ajuste fiscal que o governo do estado tem feito nos últimos dois anos, basicamente consistindo em não pagar fornecedores e glosar verbas de custeio.
No caso da UNESPAR não há saída. Ou o governo tem um plano específico para levantar esta universidade do chão, ou viveremos com os problemas que encontramos. Entre os mais graves: EMBAP (Campus de Curitiba I) funcionando em prédios alugados, sem sede própria há anos. Campus de Paranaguá, funcionando sem o mínimo de condição estrutural, tendo ficado vários meses parado porque a obra nos banheiros não era concluída por falta de pagamento. Campus de União da Vitória funcionando em prédio emprestado por um colégio estadual, e com percentual de 36% de professores temporários. Curso de Cinema (o mais procurado da UNESPAR) funcionando com professores contratados por módulos, por falta de professores efetivos.
A lista de mazelas é interminável. O governo criou a universidade, mas não fez qualquer planejamento estrutural para dar-lhe condições de funcionamento. A UNESPAR é uma vergonha pública. E os professores, agentes universitários e alunos que fazem ela funcionar mesmo com essas condições são verdadeiros heróis.