Camerata tocará Stravinski, Antheil e Adams

Material de divulgação do concerto
Material de divulgação do concerto

Este ano de 2014 a Camerata está com uma programação deveras interessante, que pode ser conferida aqui. Lamento que seja justo num ano tão corrido pra mim, o que me fez não comentar a programação aqui no blog como gosto de fazer (ao final do texto os links para comentários que fiz sobre a programação em anos anteriores).

Pode parecer irônico, mas justo no ano especial, em que a Camerata comemora seus 40 anos e realiza uma programação tão variada e competente, é exatamente o que menos estou indo aos concertos. Tenho álibis: esposa estudando fora da cidade, o que exige um esforço de toda a família, além do excesso de trabalho assumindo uma direção de centro de área, cargo novo da UNESPAR.

Mas nem tudo está perdido, porque o pessoal que organiza a programação fez a gentileza de me convidar para ser o palestrante do concerto que talvez seja o melhor do ano.

Com o grande regente alemão Stephan Geiger, que já tem feito trabalhos interessantíssimos aqui em Curitiba, a programação inicialmente previa música para cordas de compositores norte-americanos (Antheil e Adams), depois ampliada para incluir uma obra de Stravinski – talvez a maior influência sobre os novos compositores do novo mundo desde a década de 1920.

Ainda estou pesquisando sobre os compositores e as obras para tentar falar alguma coisa que preste – mas você pode ter certeza que, se o palestrante não te animar, tenha certeza que o concerto valerá muito a pena. (Prometo posts sobre as obras e os compositores aqui no blog, nos próximos dias.)

Sobre a temporada em geral, um rápido comentário:

O ano começou com a Missa Lord Nelson de Haydn, obra de peso. Teve sequência no concerto com obras de Elgar, Gnattali e Tchaikovski (abrindo espaço para o trabalho de Winston Ramalho na direção musical). O terceiro concerto foi só o coro, todo com obras dos séculos XVI e XVII, lembrando os bons tempos de Roberto de Regina quando este tipo de programação era mais frequente. O quarto concerto teve obras de Guerra Peixe, Henrique de Curitiba e José Penalva – louvável ousadia de programar compositores locais junto a um nome do panteão nacional. Depois veio um concerto variado a cargo do italiano Carlo Neri. Seguido de programação infantil de que se repetirá em outubro (um concerto cênico misturando clássicos europeus e da música popular brasileira em arranjos de Marco Aurélio Koentopp – garantia de grande resultado musical).

Já no período da Copa do Mundo, a Camerata estreou a obra Que grandes silêncios maiores há no alto, de Harry Crowl. Muito elogiável (eu sempre cobrei isso em anos anteriores) estrear uma obra de um compositor que está entre os principais vivos e que, por acaso, decidiu viver e trabalhar em Curitiba há vários anos.

Ainda em junho, outro grande movimento da programação: obras de Bach ou influenciadas por ele (de Mozart e de Villa-Lobos). Mas, principalmente, alguém teve a grandeza de convidar Osvaldo Colarusso para reger. Ele é um dos principais regentes brasileiros, mora aqui na cidade e vive de escanteio trabalhando apenas convidado em outras localidades. Uma cidade que pretende ter uma vida musical séria um dia precisava resolver isso, e foi um bom começo. O maestro também foi palestrante em outros concertos.

Em julho teve um concerto com Sibelius, Chausson e Mendelssohn. Um programa sem grandes surpresas, mas novamente corretíssimo valorizar os talentos locais com a direção musical de Winston Ramalho e o solo de piano de Guilherme Pozzi.

Em agosto um interessantíssimo programa com Vivaldi e John Cage (como fui perder isso!) – regido por Rodolfo Richter e com palestra de Márcio Steuernagel.

Isso tudo é o que já passou. Agora vem o concerto que estou propagandeando pra vocês, e ainda dará tempo de ver, até o fim do ano:

– Concerto cênico (só o Coro) com obras de Janequin e regência de Roberto de Regina (26 e 27 de setembro);

– Tartini e Vivaldi com regência de Emanuelle Baldini (31/10 e 1º/11)

– Osvaldo Lacerda, Piazzola, Edino Krieger e Guerra Peixe com direção de Winston Ramalho (7 e 8 de novembro)

– Santoro, Guarnieri e uma Missa de Bernstein (14 e 15 de novembro)

Spirituals com a regente norte americana Diane White-Clayton (28 e 29 de novembro)

– Bach, Oratório de natal BWV 248, com regência do belga Peter van Heyghen (12 e 13 de dezembro)

Pode ver que tem aí tudo o que precisava para uma grande temporada comemorativa, dentro dos limites orçamentários que a cidade impõe ao seu principal conjunto efetivo.

Valorização dos talentos locais na escolha de regentes, solistas, compositores programados e palestrantes. Equilíbrio entre música antiga, clássicos e obras modernas. Boa presença de compositores brasileiros, escolhidos corretamente entre os nomes mais consagrados.  Discreta homenagem ao centenário de Guerra Peixe. Convite para Roberto de Regina voltar ao conjunto que fundou.

Aliás, uma pequena observação crítica: faltou um convite de homenagem ao maestro Lutero Rodrigues, principal responsável pela consolidação do trabalho da Orquestra de Câmera, que regeu por um longo período nos anos 1990.

Dito isto, alguns links para outros textos que complementam coisas que estão escritas acima:

Lamento e arioso: 40 anos da Camerata – o que lamentar e o que comemorar

Neste texto, que escrevi para o blog História Cultural, tem os links para meus comentários sobre as programações de 2010, 2011 e 2012, bem como as críticas que escrevi de alguns concertos.

Stefan Geiger, a Sinfônica do Paraná e o filme de Lotte Reiniger com música de Wolfgang Zeller

Essa aí a minha crítica sobre o ótimo concerto que Stephan Geiger regeu em Curitiba há dois anos.

Comentários

4 respostas para “Camerata tocará Stravinski, Antheil e Adams”

  1. […] já tinha feito propaganda deste concerto na minha página pessoal, tanto por ser um repertório muito interessante com um ótimo regente convidado, como pelo fato de […]

  2. Avatar de Pádua Fernandes

    O concerto deve ter sido ótimo; uma pena que eu não podia viajar para Curitiba para ver a apresentação e a sua palestra. Por que, no entanto, essa cidade não tem público para essa música? Trata-se de uma reação conservadora?

    1. Avatar de André Egg

      Oi Padua,

      obrigado pelo comentário.

      Eu não diria que a cidade não tem público para essa música. Acho que falta uma divulgação mais coordenada, e a Camerata e a Orquestra de Câmara têm uma tradição mais voltada para música antiga e música clássica. Seu público mais consolidado está nesta faixa.

      Por outro lado, saí do concerto da Orquestra de Câmara e fui em outro teatro (o da Reitoria da UFPR) assistir ao concerto de abertura do Simpósio Internacional de Música Nova. Era com o Ensamble Mobile, um grupo local dedicado à música nova, e teve obra escrita em 2014 por um compositor local, e as Folk Songs de Luciano Berio. Tinha mais público que no da Orquestra de Câmara. (Vou escrever sobre este concerto em breve).

      Acho que é uma questão de mobilizar as audiências, pois público existe.

      Mas é verdade que o Curitibano médio tem um gosto estético extremamente conservador.

  3. Avatar de Pádua Fernandes

    Obrigado pela resposta. Perguntei porque, na notícia, você havia escrito que a plateia só estava um terço ocupada, o que deve ter contrastado bastante com a qualidade da execução artística.
    Mas já via algo parecido com o Quarteto de Leipzig (porém com Beethoven e Haydn…) na Hebraica em São Paulo, e por motivo econômico. Quando ele retornou, mas ao SESC, com preços muito mais baratos, foi difícil conseguir ingresso.