John Steinbeck: A pérola

Capa da edição LP&M

Foi meu primeiro Steinbeck, que me animou a explorar mais esta obra magistral.

Ideal para começar com a obra do escritor, por que é um livro curto, desses de ler numa sentada. A narrativa assume uma linguagem deveras cinematográfica, e, aliás, não duvido que ele seja o que da literatura mais influenciou o desenvolvimento de roteiros.

A crueza da vida sofredora aparece na obra de Steinbeck como nos acostumamos depois a ver no western ou no Cinema Novo, talvez mesmo na literatura beatnik e até na canção popular (à Dylan).

No caso deste livreto, um pescador de pérolas indígena – julgo que na Califórnia, chamado Kino. Ele se defronta com a tragédia ao encontrar a mais preciosa pérola jamais vista por aquelas paragens.

Em torno da narrativa centrada na família de Kino, e na introspecção psicológica do personagem (vejo nesta saga ecos de Victor Hugo, espremidos numa concisão, e semelhanças com o que foi explorado noutro clássico miniatural – O velho e o mar de Hemingway), Steinbeck aproveita para traçar um panorama da pobreza nos EUA, da exploração do pobre, da opressão secular do indígena. E faz um mergulho profundo na descrição do médico, do padre, dos compradores de pérolas. As personificações da exploração capitalista sobre uma comunidade tradicional e primitiva, que vivia em comunhão com a terra muito antes do explorador chegar.

O fio condutor da trama, a sustentar a atenção do leitor com a respiração suspensa por quase todo o livro, é justamente a expectativa da emancipação, que não chega senão no fim da história.

Um estilo de narrativa que foi meio abandonado na década de 1940, tanto pela necessidade de os EUA produzirem um cinema mais favorável ao país, por exemplo no âmbito da Good Neighbor Policy que foi tão eficaz em conquistar o mercado latino-americano para Hollywood, e que para isso precisou, por exemplo, banir Vinhas da ira (versão cinematográfica de John Ford para o romance de Steinbeck) e investir numa Carmem Miranda. Ou por exemplo, do outro lado da moeda, pelo Realismo Socialista, onde doravante não poderia figurar a desesperança ou o medo (peças centrais na saga de Kino), que passariam a ser sentidos apenas pelos escritores e artistas, enquanto seu público deveria receber uma trama repleta de certeza da vitória dos trabalhadores através do socialismo-que-não-tarda.

É por isso que a literatura modernista norte-americana é tão interessante. E foi tão influente. O livreto de Steinbeck o diz de maneira cabal.