Acabo de voltar do concerto, realizado no Teatro da Caixa, no âmbito da programação do 1º Simpósio Internacional de Música Nova e Computação Musical da EMBAP.
Foi uma coisa altamente impactante – um dos concertos mais marcantes que já vi. Um programa bem extenso, longo, cansativo e extenuante – mas apenas para o músico, pois para o público era impossível perder a atenção por um minuto sequer. Estivemos diante de um gênio, um titã da performance musical.
Para se ter uma ideia, basta que se diga que ao adentrar o teatro, víamos no palco uma fileira com 8 estantes de partitura. Sobre elas estavam colocadas as mais de vinte páginas da primeira peça que seria tocada no concerto. O programa misturou peças clássicas do repertório solo de viola com estréias de obras escritas para a ocasião.
Na verdade, as peças clássicas são peças da década de 1970: Prologue de Gerard Grisey (1976), Tre noturni brillanti de Salvatore Sciarrino (1974-75) e Sequenza VI de Luciano Berio (1967). Peças que exigem muito do solista, pois estão sempre além do limite da técnica tradicional, mas que criaram as novas fronteiras tanto dos usos de técnicas expandidas, harmônicos, microtons, como da própria discursividade de uma peça instrumental solo. E além de tudo são obras longas, de grande fôlego.
Que um instrumentista se disponha a tocar as três num mesmo concerto já é algo impressionante.
Mas Ehlers não fez só isso.
Aceitou ainda a incumbência de estrear obras de Felipe Ribeiro (Ruínas onde nunca estarei), Dániel Péter Biró (Salvim) e Rodolfo Coelho de Souza (Pontos e linhas, entre planos). A de Biró tão longa e ousada do ponto de vista técnico quanto a dos compositores já consagrados. A de Felipe Ribeiro um pouco menos longa mas não menos ousada. E a de Rodolfo Coelho de Souza a única mais próxima da duração de uma peça “normal”, e também a única cuja partitura cabia numa só estante. Uma peça que, segundo as explicações de Ralf Ehlers, usou a notação tradicional – a mim parecendo ter até elementos meio bachianos, intercalados com técnicas contemporâneas.
Para mim tudo foi de extrema novidade. Grisey, Sciarrino e Berio são compositores que nunca tinha ouvido ao vivo – e este tipo de obra não é o que a gente possa usufruir apropriadamente em CD ou mp3. É coisa que precisa ser vista, tanto quanto ouvida, e cuja riqueza de timbres e espacialidade não cabe mesmo numa simples gravação.
Um ótimo encerramento de programação para um evento que já marca presença na vida musical de Curitiba e na vida acadêmica de música no Brasil. Devo escrever mais sobre o evento como um todo, mas não podia deixar de registrar aqui minha impressão sobre este momento tão marcante. Agora preciso dar um jeito de ouvir de novo as peças, ver as partituras, tentar entender um pouco melhor esse efeito maravilhoso que cativa a gente durante o concerto.
E torcer para que concertos assim aconteçam sempre.
Comentários
Uma resposta para “O concerto de Ralf Ehlers no Simpósio de Música Nova em Curitiba”
Mamãe feliz agradece… feliz sobretudo de ver Ralf trazer finalmente para o Brasil esse trabalho conquistado e burilado em 20 anos de Europa. Obrigada André.