2015 começou com um mau agouro terrível. Logo que voltei das férias, descobri que a locadora do meu bairro tinha fechado. Nos 6 anos que tinha morado neste endereço, no bairro Santa Cândida em Curitiba, uma das boas coisas a fazer no bairro era caminhar com as crianças até a locadora e escolher um filme. Conversar com o João, que tinha o melhor atendimento de locadora que já conheci.
Tudo isso acabou de repente. Agora, além de ter que pegar o carro pra comprar jornal, pão e outras coisas, ainda tenho que pegar o carro se quiser alugar um filme. A vontade de mudar desse bairro aumentou bastante depois disso.
Provavelmente eu sou culpado, afinal, ando alugando cada vez menos mídia, assistindo bastante Netflix. De qualquer forma, tem muita coisa que o Netflix não tem, e as locadoras continuam sendo muito necessárias. Agora fico apenas com meu cadastro da Cartoon Video do Cabral, provavelmente a locadora de melhor acervo da cidade, embora também ela esteja visivelmente reduzindo o espaço de exposição e a quantidade de filmes disponíveis. Será que é mesmo um negócio fadado a desaparecer frente ao streaming?
Mas dos filmes e séries que vi em 2015, pouco no cinema, parte na Netflix, parte alugado na Cartoon e parte comprada no acervo da locadora que fechou no meu bairro, os mais relevantes são os que explico abaixo.
O ano começou pra mim com Êxodo: deuses e reis de Ridley Scott. Achei fraco, e explico meus motivos na resenha que fiz pro Amálgama:
A resenha faz comparação com Noé de Darren Aronofsky, que achei melhor na categoria “filmes de histórias da Bíblia”.
Do acervo que comprei da locadora, vi e me impressionei bastante com 12 anos de escravidão, e Ela de Spyke Jonze. Este último provavelmente o melhor filme sobre futuros distópicos. Um mundo de adultos inteligentes e bem remunerados, que vivem em cidades inteligentes, mas tem sérias dificuldades com relacionamentos humanos, e acabam envolvidos emocionalmente com sistemas operacionais que operam computador e smartfone de forma coordenada. Descrevendo assim parece bobo, mas não é. Grande atuação de Joaquin Phoenix, que prova que dá pra fazer MUITA COISA só com expressão facial.
Dos que aluguei na Cartoon, muito bom o Menino no espelho, baseado no romance de Fernando Sabino. Ótimo filme sobre infância, com MUITO destaque para a atuação dos atores mirins. O Lino Facioli esteve incrível no papel. Filme pra ver com as crianças ou simplesmente para voltar a ser criança um pouco.
Talvez o melhor filme que vi no ano (e um dos melhores filmes que vi na vida) foi Relatos Selvagens, um conjunto de pequenos filmes relatando diversas situações onde as pessoas simplesmente perdem a paciência. Trabalho magistral de roteiro, e grandes atuações. Parece que é um dos raros casos de sucesso de público e crítica.
Agradeço à minha página de ratings no IMDB, por ter me ajudado a lembrar que filmes assisti!
Dos filmes que assisti no cinema com as crianças, 2015 foi particularmente um ano fraco. Talvez os melhores tenham sido os que não consegui ver ainda – Divertidamente e O pequeno príncipe.
Além das animações e filmes infantis, os únicos que vi no cinema foram Estrada 47, um baita filme brasileiro, e 007 contra Spectre, um filme bom de ver mas que daqui a 10 anos ninguém vai lembrar. O Estrada 47 eu escrevi resenha, e parece que foi o primeiro filme brasileiro sobre a segunda guerra mundial:
Se o ano começou com péssima notícia do fechamento da locadora do meu bairro, terminou com uma notícia fantástica que confirmou que o Netflix se tornou mesmo indispensável. Até o momento eu tenho muita birra com o catálogo deles. Assisto ali muita coisa que me interessa, mas a marca maior é das ausências. Não está lá a filmografia de muita gente importante, embora haja um bom e crescente acervo de diretores como Woody Allen ou Quentin Tarantino.
A grande notícia é que Paris, Texas de Wim Wenders entrou no catálogo. Os caras estão começando a descobrir o que é cinema, e talvez daqui uns anos as locadores não sejam mesmo necessárias.
Entrando nas coisas que assisti no Netflix: principalmente séries. A experiência de assistir séries em serviço de streaming é realmente MUITO melhor que ficar esperando episódios na grade de programação das TVs por assinatura. Mais do que as locadoras, quem está ameaçado pela Netflix são as empresas de TV a cabo (ou satélite, seja o que for).
Das séries que comecei a assistir atrasado, destaco Downton Abbey, ótima trama entre uma família da aristocracia inglesa vivendo a decadência de sua posição social em um mundo de rápidas transformações no tempo da 1º Guerra Mundial. O modo como a série recria a vida numa propriedade, especialmente as relações entre patrões e criados, é muito fascinante, pelo menos para quem gosta de história.
Das séries atuais, as de conteúdo próprio da Netflix acho imbatíveis. House of cards já tinha impressionado tanto em suas duas primeiras temporadas que a 3ª teve um pouco de dificuldade de manter o nível. Entretanto, minha curiosidade antropológica pelo funcionamento da política americana me manteve ligado na série. Sobretudo, os roteiristas sabem como manter a trama sempre interessante, e terminaram a temporada como deveriam – deixando a gente morto de ansiedade para sair logo a 4ª temporada, que virá no início de 2016.
Outra que não recebeu o merecido destaque, mas que felizmente já tem segunda temporada anunciada, é Marco Polo. Negócio fascinante o retrato histórico e a cultura no Império Mongol e na China. Ainda não consegui conferir o grau de veracidade histórica que os caras deram à série, mas o que me importou até agora é qualidade cinematográfica do negócio todo (fotografia, roteiro, atuações, trilha sonora) – coisa fina.
Outra coisa que o catálogo da Netflix vai melhorando muito são os musicais (shows e documentários). Tenho um monte na lista dos que quero assistir. Destaco três do catálogo que já vi e recomendo bastante: A música segundo Tom Jobim, Djavan Ária e B. B. King Live.
Dos que assisti junto com as crianças, destaco: o ótimo anime Ponyo, O menino do pijama listrado (Mariana disse que o livro é muito melhor que o filme), o ótimo filme mexicano Canela (sobre relações familiares e sobre cozinha).
O que mais me irrita na Netflix é o mau hábito de tirar coisas do catálogo. Não sei qual é a lógica, mas pra mim não tem lógica.
E continuo esperando que um dia a Amazon traga para o Brasil um serviço como o Prime. Aí sim a Netflix teria concorrência. Dá uma olhada no serviço de vídeo que inclui.
P.S. Veja os demais textos desta série Retrospectiva 2015:
Retrospectiva 2015: filmes e séries
Retrospectiva 2015: os concertos que assisti e os concertos que não assisti
Comentários
2 respostas para “Retrospectiva 2015: filmes e séries”
Boa professor… Março Polo, Bible e O despertar da Saga… foi o que consegui ver este ano, tirando Cosmos e a Humanidade: uma história de todos nos, que sempre que posso dou uma assimilada durante os intervalos técnicos da faculdade…. Mas não da para esquecer também da Nina Simone e da ‘Música da Alma’ que conta a história real da turnê de um grupo vocal aborígene, australiano, The Saffires, que se apresentaram durante a guerra do vietna para soldados americanos em pleno campo de batalha. Valeu e boas férias a todos.
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