Texto publicado originalmente em 28 de março de 2010
Jesus estava com seus amigos mais próximos – os discípulos, a caminho de Jerusalém.
Orientou dois deles que fossem à frente, e pedissem emprestado um jumento, em casa de um amigo na próxima aldeia do caminho. O jumento já estava separado para o mestre. Os dois discípulos o levaram, com o consentimento dos da casa.
“Selaram” o jumento com suas túnicas. Jesus o montou.
Na chegada para Jerusalém pessoas o saudavam à beira do caminho. Alguns o faziam estendendo as vestes para que Jesus passasse por sobre elas. Outros traziam ramos cortados nos campos.
Muitos iam acompanhando a chegada do mestre, à frente ou atrás, formando um séquito que anunciava: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” e “É chegado o reino de Davi, nosso pai”.
Era domingo, o início da última semana da vida de Jesus. A chegada do messias à cidade de Davi é narrada no início do capítulo 11 do Evangelho de Marcos, que os estudiosos suspeitam ser o mais antigo.
Foi provavelmente tendo o Evangelho de Marcos como fonte que surgiram as narrativas dos Evangelhos de Mateus e Lucas. No capítulo 21 de Mateus, aparece uma nova informação (provavelmente para gerações já não tão familiarizadas com os detalhes cifrados da história): a importância do jumento, que significava o cumprimento da profecia de Zacarias (cap. 9 vers. 9).
No Evangelho de Lucas (final do capítulo 19), a história não menciona a profecia de Zacarias, nem os ramos. A multidão que seguia era dos discípulos, e a menção não era ao reino de Davi, mas aos milagres que tinham presenciado. Uma nova informação diz que no meio da multidão estavam fariseus, que diziam a Jesus para que mandasse os entusiasmados se calarem. A resposta é que se eles se calassem, quem gritaria seriam as próprias pedras.
João, o mais tardio dos evangelhos, repete a história no seu capítulo 12. Ao contrário dos outros três, que se preocupam mais com a fixação da tradição oral numa narrativa histórica – João, provavelmente escrevendo já no segundo século e influenciado pela filosofia helenista, recheia a narrativa da vida de Cristo com reflexões místico-teológicas. Ele repete a idéia de que a entrada montada em jumentinho remetia à profecia de Zacarias. Mas acrescenta que os discípulos não compreendiam isso naquele momento, e que só relacionariam os fatos ao cumprimento das profecias depois que Cristo ressuscitasse e fosse glorificado. Este evangelho também associa a multidão com o recém operado milagre da ressurreição de Lázaro, não mencionado nos outros evangelhos.
Jerusalém era uma cidade símbolo. Desde que Davi transferiu para lá a sede da monarquia. Ela era o símbolo de uma época gloriosa perdida no passado. Desde que a elite havia se transferido para a Babilônia, no século VI a.C., a cidade tinha se tornado o símbolo da esperança dos desvalidos.
Desde a reconstrução do templo era a sede do culto de uma multidão de fiéis dispersa pelo Oriente Próximo e pelo Mediterrâneo, que vinham sempre em peregrinação à cidade, e ajudavam a sustentar o parasitismo dos saduceus.
A entrada “triunfal” do Cristo em Jerusalém tinha de ser sobre um jumento. Animal indigno dos grandes reis, mas usado pelas pessoas humildes. Era com humildade que o mestre entrava na cidade santa. Pouco depois os evangelhos narram sua indignação com os “vendilhões” do templo: um misto de cambistas e fornecedores de oferendas para peregrinos de terras distantes.
Iniciava-se o período final da vida do messias. A semana mais carregada de eventos de sua vida, que culminaria com sua morte na sexta-feira. Os eventos dessa semana ficaram marcados profundamente na memória dos seus seguidores. Perpetuados na narrativa dos evangelistas, tornaram-se o momento mais significativo de todo o calendário litúrgico – o ciclo de celebrações memoriais que passou a reger a vida comunitária dos cristãos.
O domingo de ramos é o dia que marca o início da semana santa.
Tempo de celebrar e lembrar. O dia em que o filho do carpinteiro, montado num jumento, entrou na cidade dos reis. Não para conquistá-la pela força das armas. Mas para ali deixar sua vida como semente de um novo tempo.
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Veja a série completa sobre a Semana Santa:
Hoje é domingo de ramos
Foram os judeus que mataram Jesus?
Hoje é domingo da ressurreição
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Comentários
4 respostas para “Hoje é domingo de ramos”
Opa, bela série vem por aí!
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