No fim de semana começou o Brasileirão 2014.
Eu tenho blog desde o fim de 2007, e todos os anos depois disso eu sempre fiz post falando sobre o campeonato, os times, as chances, as expectativas. Também dava meus palpites e fazia previsões infalíveis, que invariavelmente nunca se confirmavam ao final do certame. (Ao final dou os links para os posts dos anos anteriores.)
Agora a vida de palpiteiro ficou mais difícil. Por causa dos senhores aí da foto, (ir)responsáveis por administrar o mais importante campeonato do país-sede da Copa do Mundo (ou melhor, Copa da FIFA). Os caras que estão acabando com o futebol no “país do futebol”.
Minha história como torcedor de futebol tem altos e baixos de amor e ódio. Na Copa de 82 eu tinha 8 anos, vi aquela geração de ouro com olhos de menino e recebi meu batismo chorando a derrota para a Itália. Pouco depois vi (sempre pela televisão) meu time conquistar seu até agora único título nacional. Depois de ter me desesperado de novo com a Seleção de Telê em 86, vendo o belo futebol canarinho ser eliminado pela França, perdi o gosto pela seleção da CBF que levou o time comandado por Lazaroni em 1990, marcando o início de uma era em os caras que envergavam a camisa amarela invariavelmente não jogavam nos estádios brasileiros nem passavam na nossa TV. Nessa mesma década perdi o gosto pelo Campeonato Brasileiro – em parte por começar a entender as maracutaias todas, mas principalmente porque descobri isso da maneira mais dolorosa para alguém que começa a chegar perto de virar adulto: após ser rebaixado no tapetão em 1989, meu time amargou anos de segundona, numa época em que os campeonatos eram qualquer coisa menos decididos dentro de campo.
Comecei a me empolgar de novo em 2003, com o primeiro campeonato de pontos corridos. Parecia que agora o negócio ia disciplinar um pouco. Lei Pelé, Estatuto do Torcedor, fim das viradas de mesa – aquele brilhante time do Cruzeiro que tinha o Alex e ainda o meu Coritiba conquistando vaga na Libertadores pela primeira vez desde o título de 1985. Também era o ano em que nascia minha primeira filha, e eu queria que o futebol fosse de novo mais um elo entre o passado e o presente, as gerações empolgadas juntas em torno do ludopédio. Para contribuir, o Felipão tinha dado gosto pela Seleção de novo em 2002, com um título comemorável (ao contrário daquele de 1994).
Em 2004 comecei a frequentar estádio pela primeira vez na vida. Peguei uma fase difícil de se ir ao Couto Pereira – vi o time cair em 2005, estava lá naquele 2×3 de virada para o Atlético MG em 2006 que selou mais um ano na Bezona, vi o time de garotos de 2007 ascender e fazer bonito em 2008 – com o Keirrison sendo o primeiro artilheiro do Brasileirão com o manto alviverde. Em 2013 eu consegui uma vaga de sócio na arquibancada embalado pelo rescaldo do excelente time de 2011 (que me fez assinar o PFC pela primeira vez) e também pela experiência mágica de ver a volta de Alex.
O campeonato de 2005 com aqueles jogos remarcados e aquele juiz que expulsou o Tinga do Inter por ter caído quando sofreu um pênalti – tudo para o Corinthians ser campeão, parecia um ponto fora da curva.
Depois da chatice do tricampeonato inconteste do São Paulo em 2006-2008, as coisas voltaram a ser imprevisíveis como deveriam ser. Afinal, quem diria que aquele Flamengo desacreditado seria campeão com Andrade no comando do banco e Adriano com a camisa 9? Ou que o Muricy ia conseguir repetir o título nacional com outro clube em 2010? Ou que aquele Corinthians disciplinado e marcador, que só ganhava por 1×0 ia ser o campeão de 2011?
Bem, o campeonato tinha ficado bom justamente por isso: ganhava-se dentro de campo, o que por si só já era uma novidade de empolgar torcedor.
Mas estávamos vivendo o final dos anos Lula, e começamos a pegar aquele bode. Passou a empolgação com as pequenas melhoras. A gente se acostumou com as coisas funcionando minimamente e começamos a ficar com raiva do monte de outras coisas que continuaram mal, muito mal.
2013 foi o ano dos protestos, da percepção de que a inflação está aí, que o transporte público é uma merda, que a economia não cresce mais, etc. E também de lembrar que os cartolas de clube continuam os mesmos, que o dinheiro do futebol aumentou muito, mas continua indo pro ralo da corrupção e do desmando. Que a CBF continua com as mesmas peças que estão lá desde a Ditadura e tudo o mais.
Só pra deixar isso bem evidente, o campeonato terminou no tapetão como era de costume uns tempos atrás.
Assim, graças à CBF e ao STJD eu não posso fazer previsões sobre como será o campeonato, quem jogará bem, quem tem chances de título ou de Libertadores, qual técnico entende do riscado, e outras coisas. Se eu quiser fazer alguma previsão sobre o Brasileirão 2014 eu tenho que começar dizendo se a justiça comum vai decidir pelo Icasa ou pelo Figueirense na Série A (o time catarinense escalou um jogador irregular num jogo decisivo mas não foi punido). Se quem devia ter caído para a Série B era o Fluminense (pelo que desempenhou dentro de campo) ou a Portuguesa (por uma trambicagem do STJD para livrar a cara do Flamengo na escalação de um jogador irregular).
Dificilmente eu apresentaria a coisa toda em palavra melhores que as do André Kfouri em sua coluna de ontem do Lance!
Na semana de estreia do Campeonato Brasileiro de 2014, competição premium do futebol no país, times entraram e saíram da tabela de jogos da Série A por força de decisões da Justiça. O vexatório espetáculo dos auditores do STJD, um tribunal que julga o que quer, como quer, sem nenhum compromisso com a salvaguarda do jogo ou com o senso do ridículo, plantou em dezembro do ano passado a colheita que se faz agora. Os casos da Portuguesa e do Icasa têm em comum o mais absoluto desprezo da CBF pela governança do campeonato mais importante do Brasil. Nenhum organizador minimamente preocupado permite que seu produto seja exposto dessa forma.
Mas, nem tudo está perdido, porque pela primeira vez nós temos uma boa notícia vinda da parte dos jogadores. Em 2014 o campeonato será mesmo uma bosta, mas não há dúvida que o melhor time que estará em campo é o Bom Senson FC. Atualmente os caras desistiram de negociar com os homens da foto lá em cima e com os cartolas de clube – desse mato não sai cachorro. Agora é pressionar no Congresso Nacional, onde está sendo discutida um lei que escalona as dívidas dos clubes, e que pode incluir uma série de regras capazes de disciplinar o esporte no país (ou não, a depender de quem terá mais força de convencimento, o bom senso ou a cartolagem).
Se não der em nada por aí também, greve.
Aliás, corra olhar a página do Bom Senso FC na internet, assine a petição, leia as propostas, veja os vídeos dos depoimentos dos jogadores, compartilhe os cartazes com as reivindicações. Chegou a hora da gente cobrar melhorias básicas, senão não vai dar mais pra torcer neste país.
Pra terminar, os links para os textos que fiz para os brasileirões anteriores: 2008 (essa eu já apaguei no blog antigo), 2009, 2010 (essa também), 2011, 2012, 2013.