Detox digital #01

Detox digital #01 – explicações

Estou nesse momento no lugar onde passo a maior parte do meu dia: na frente do meu computador pessoal, conectado à internet. Aqui faço as minhas atividades profissionais e misturo essa função com as atividades pessoais, como explico abaixo. O longo tempo que passamos conectados tanto no computador como no celular (dispositivo móvel) leva à necessidade de nos preocuparmos com o que estamos fazendo e como estamos administrando nosso tempo e nossos dados. Por isso começo essa série de desintoxicação ou Detox Digital.

2020, pandemia, hiperexposição

A pandemia de COVID nos lançou em uma distopia em 2020. Eu sou professor universitário e pesquisador, já passava parte significativa do meu tempo na frente do computador, lendo e escrevendo textos, documentos, emails, mensagens. No computador já fazia a administração das finanças e serviços bancários, compras, pesquisas de preço, pesquisas de viagens e de roteiros.

Antes de 2020, quase tudo que eu fazia fora dessa máquina era relacionado a atividades de lazer, atividades de outras pessoas da família e atividades de trabalho. Entre estas últimas estavam as aulas que eu ministrava na UNESPAR e as reuniões, administrativas, de pesquisa ou de orientação.

Mas em 2020 quase tudo passou a ficar concentrado no computador e, de forma complementar, no celular. Passou a ser mais importante tomar o controle da tecnologia e da exposição a ela e diminuir algumas coisas. Menos recursos de hardware, nos evitam a necessidade de comprar máquinas novas e mais poderosas do que as nossas simples necessidades. Não usar tanta conexão evita pagar mais caro por mais velocidade desnecessária. Usar pouco armazenamento evita depender de memórias cada vez maiores nas máquinas e/ou utilizar cada vez maior espaço em nuvens.

Bigtechs, dependência, controle

Se você está acompanhando o noticiário recente, e os próprios avisos das empresas que nos fornecem serviços digitais, está vendo algumas coisas: contas de Donald Trump sendo suspensas em serviços como Twitter, Facebook ou Youtube; mudança dos termos de serviço do whatsapp para permitir vender nossos dados (conectados aos do facebook); cobrança de serviços e de armazenamento pelo Google.

Passamos muitos anos nos acostumando a usar serviços pretensamente gratuitos, que nos acostumam a usar suas facilidades e nos espionam para vender nossos dados a anunciantes. Já faz tempo que sabemos que nossos dados não são usados apenas para vender publicidade ou serviços, mas pior ainda, para espionagem governamental ou privada.

Um grupo muito pequeno de empresas controla a maior parte das nossas atividades nos dispositivos conectados (computadores e celulares). Isso dá a eles excessivo poder de mercado, de informação, de dinheiro e até de controle político. Alguém imaginaria a eleição de figuras como Donald Trump ou Jair Bolsonaro, ou mesmo efeitos como o Brexit sem a possibilidade de uso de facebook, twitter, whatsapp e youtube como canais de disseminação de informações falsas e coleta de dados massivos?

Desintoxicar como?

Aí entra a questão. Como faço para diminuir o tempo e os recursos que gasto com o computador e com o celular? Como faço para sobrar mais tempo e mais dinheiro para outras coisas mais importantes da vida? Ler livros e outras coisas em papel (sentado numa varanda ou deitado numa rede, por exemplo, não no escritório). Conversar com as pessoas queridas pessoalmente, olhar nos olhos, abraçar. Fazer esportes, tocar um instrumento, viajar, jogar jogos de tabuleiro com pessoas amigas.

Tudo isso aí demanda um melhor gerenciamento de uso da tecnologia. Porque vamos lembrar que nosso trabalho hoje em dia nos exige cada vez mais. Temos que estar sempre conectados, trabalhamos 24 horas por dia e 7 dias por semana. Somos escravizados pelos maus hábitos que desenvolvemos. Os maus hábitos são desenvolvidos por nossa própria desatenção, falta de planejamento e vulnerabilidade à criação de necessidades que não temos.

Necessidades simples que nos escravizam:

  • responder rápido (fenômeno notável principalmente no whatsapp)
  • ganhar likes, o famoso “biscoito”
  • indignar-se com a alguma coisa, normalmente informação falsa
  • sentir-se atualizado ou “por dentro”, o que é somado ao sistema de timelines infinitas como as de facebook, twitter e youtube torna-se um fator poderoso de ansiedade
  • ser parte de um grupo – necessidade real, da vida real, que escamoteamos participando de grupos virtuais
  • maus hábitos – por exemplo usar o celular nas refeições, perder o horário de dormir por uso de tela, uso de dispositivos em lugares sem boa postura e iluminação
  • demandas dos outros – passamos tempo demais lendo coisas que os outros nos mandam, respondendo coisas que os outros nos perguntam, assistindo vídeos ou ouvindo áudios que os outros nos recomendam

Torna-se necessário diminuir o uso. Diminuir o tempo que gastamos. Os recursos que gastamos. A energia que gastamos. O dinheiro que gastamos. A saúde que gastamos.

Usarmos a tecnologia a nosso favor, e não sermos usado por ela a favor de outros interesses. Isso é uma atitude necessária ao cuidado pessoal, às boas relações familiares, ao bem comum e à melhoria social e política.

O que fazer?

Você é que tem que saber isso. Não sou eu que vou te dizer.

Mas o que pretendo fazer nesta série de posts chamados Detox Digital é: contar o que estou fazendo, o que estou aprendendo sobre isso, o que está funcionando pra mim.

E se quiser, você pode vir junto.