Tenho vários aspectos para comentar do jogo de ontem, que seguem abaixo, organizados da seguinte maneira: 1 – O “novo Maracanã”; 2 – O jogo; 3 – Seleção Brasileira de Felipão e perspectivas para a Copa
1 – O “novo Maracanã”
Não tem muito o que comentar desse “novo estádio”, acho que já estão dizendo tudo por aí.
O estádio teve uma grande reforma para um Mundial da FIFA em 2000, foi novamente reformado para o Panamericano de 2007 e agora foi “inaugurado” sem estar pronto, na reforma destinada à Copa 2014 da FIFA (repitamos: “Copa 2014 da FIFA”, não “Copa do Brasil 2014”). Detalhe – nova reforma para poder ser usado nos Jogos Olímpicos 2016 (do COI, não do Rio de Janeiro).
Olhando pela TV, na bela transmissão HD, a gente até acha o estádio bonito. Some-se ao jogo que já vimos na semana anterior, de Santos e Flamengo no Mané Garrincha em Brasília. Digamos que estamos tentando imitar os estádios europeus, com transmissão de TV meio estilo jogos de videogame. Nada menos futebol brasileiro do que essa frescura toda.
Insiro isso aí tudo numa conversa que tive com o Fabio Poletto por esses dias atrás: o “novo Maracanã” combina bem com o tipo de torcedor que tem frequentado os jogos da Seleção – vaiando quase sempre. Gente que paga caro por um ingresso, entende pouco (e nem gosta) de futebol, exige conforto e, sobretudo, quer que “aquela raça” de jogadores ganhem, sobrem, dêem espetáculo. Foi isso que vimos ontem, exceto que a Seleção não foi tão mal, e as vaias não foram tantas.
Chamo a atenção também para as ligações que estão sendo feitas por Allan Oliveira com os novos estádios e o processo de gentrificação do Brasil (aqui, aqui e aqui).
Digo, como torcedor, que não compactuo com o tipo de espetáculo que o futebol está virando nas mãos da FIFA. Um ótimo espetáculo financeiro e de transmissão de TV, mas pouco da magia esportiva que cresci acostumado a ver.
2 – O jogo
O jogo foi, em grande parte, a imagem que ilustra este post. O Brasil jogando bom futebol e atacando bastante, mas quase sempre parando na ótima atuação de Hart, que viveu dias de Gordon Banks.
Terminou sem gols o primeiro tempo, mas depois Felipão trocou um pessoal, botando o “escrete canarinho” mais pra frente.
Especialmente, foi bom ver Neymar correndo e, pasmem!, marcando. Daniel Alves foi bem quase sempre. Fred também, nas vezes em que a bola chegou nele. Normalmente não depois de ter passado pelo pé de Neymar. Aliás, reparem que toda vez que a bola chegou para Fred nas proximidades da área, ele tocou de primeira, sempre colocando alguém em boa posição para seguir a jogada ou finalizar. Bom se outros fizessem o mesmo.
O Brasil ganhou muito com a entrada de Hernanes, que jogou pra caramba, e foi o principal responsável pelo primeiro gol, feito por Fred no rebote de um chute seu a gol que pegou na trave.
Seleção Brasileira de Felipão e perspectivas para a Copa
Antes de dizer o que penso dessa Seleção e suas possibilidades, quero dizer o que penso que é uma Seleção Brasileira.
Em primeiro lugar, tem que ser um conjunto que respeite a história desta camisa, que não é pouca.
Mas isso nem é o principal pra mim. Quero dizer, não espero sempre ver de novo Seleções jogando bom futebol como em 70 (que vi só em video tapes), em 82 (que foi a primeira Copa que assisti, ainda criança) ou em 2002. Espero ver Seleções que representem o futebol brasileiro.
Isso pra mim é: ver com a camisa amarela os melhores jogadores que eu podia ver jogando no Brasileirão. Foi assim durante muito tempo, fossem boas Seleções em termos de competitividade para ganhar Copa, fossem Seleções fracas demais para isso. Eram sempre jogadores que tinham brilhado em clubes brasileiros, mesmo que depois tivessem ido fazer fama e fortuna no futebol europeu.
Agora, em anos recentes temos um problema sério, que é essa geração que nasceu querendo jogar no Barcelona ou no Chelsea, e que foi pra Europa levada por algum empresário inescrupuloso antes mesmo de aprender a comer com garfo e limpar a própria bunda. Esse tipo de jogador não merece envergar a camisa amarela, e acho que o Felipão deve perceber isso mais cedo ou mais tarde.
Nesse sentido, foi bom ontem ver gente como Paulinho, Neymar, Lucas, Hernanes, Fred – jogadores que até hoje ou até poucos anos atrás estavam fazendo a alegria do torcedor brasileiro e agora vão desenvolver isso na Seleção nacional. Aliás, não é muita coincidência não, mas foram os caras que jogaram o melhor futebol ontem. Neles está nossa esperança.
Dito isso, passo a avaliar as condições demonstradas por Felipão em montar um time decente para 2014.
Primeiro, diga-se que a Seleção se juntou para jogar, ainda não treinou. E vai ser um problema muito sério esse negócio de sede não disputar eliminatórias, porque significa que a Seleção quase não vai jogar antes de ir pro pau na Copa em que teremos a obrigação de apagar o “maracanazo” de 1950.
Felipão tem histórico com a camisa canarinho, e apesar de eu achar que a melhor fase dele já passou faz um tempão, acho que a Seleção é realmente a única coisa com a qual ele ainda se importa (no Palmeiras, talvez não tenha feito um bom trabalho por isso, assim como nos clubes que passou após a Seleção de Portugal, onde também fez bom trabalho). Deu pra ver que a convocação e o jogo já mostraram que teremos um time ao menos com vontade de jogar bola, o que vai ser fundamental.
A defesa brasileira ainda é uma porcaria, mas uma linha de frente com Neymar, Fred, Lucas, Leandro Damião pode realmente dar alguma coisa de muito bom. Também temos volantes respeitáveis como há tempos não se via, digo isso pelo Paulinho e por outros que estão brilhando no Brasil e até poderiam ser convocados.
Mas vejamos. Acho que temos condições de ser competitivos na Copa. Não fomos em 2006 e 2010, nem no meio tempo entre as últimas copas, em grande parte por causa das más escolhas de treinadores pela CBF: gente que deixou a mídia (Globo) escalar o time ou brigou tanto com ela que deixou o clima emocional impossível para os jogadores renderem em campo (Dunga).
Felipão já mostrou que sabe muito bem que montar uma Seleção não é apenas convocar uns caras que jogam bem e colocar eles num campo para ver o que sai. Tem que inspirar o pessoal, e transformar aquilo ali num grupo capaz de vencer. A última vez que vimos uma Seleção assim, o treinador era o mesmo de agora. Pode ser que saia coisa boa de novo.