Performance no 7º Seminário de Pesquisa em Artes da FAP

A princípio fiquei um pouco contrariado quando vi que eu estava escalado para coordenar uma mesa do Seminário de Pesquisa em Artes da FAP e nesta mesa não tinha nenhum trabalho sobre assuntos que eu entendo alguma coisa (música ou história do século XX).

Depois que terminou a seção saí agradecido por terem me colocado num evento tão rico, em que pude presenciar coisas realmente importantes como dificilmente vejo acontecer em eventos acadêmicos.

Descobri que a coisa ia ser uma experiência rica quando me avisaram que a mesa onde tradicionalmente sentam o mediador e os que apresentam trabalhos foi desmontada porque o palco seria usado para performances. Aí lembrei que o tema do simpósio era “pesquisa como criação”.

E aí vi como a área de dança vai assumindo uma importância acadêmica interessantíssima. O curso de dança na FAP é um dos únicos do Brasil, e pelas comunicações eu vi que já criou uma cultura de produção relevante. Várias pessoas que apresentaram trabalhos se graduaram na FAP e depois fizeram (ou estão fazendo) mestrado em dança na UFBA – se não me engano, o único do Brasil na área.

E duas apresentações foram particularmente instigantes, com o trabalho de Aline Vallim – “Processos compartilhados em dança: investigação criação e aprendizado” e o de Renata Roel – “A experiência do olhar na dança: composição no tempo presente”. Foram trabalhos teóricos que se inserem profundamente na reflexão da prática, e deram boa mostra de como a pesquisa acadêmica em arte é mais interessante se está conjugada com os processos de criação, lembrando-nos que o sentido do termo pesquisa está ligado aos processos de fazer o novo, inventar, criar.

Logo depois entraram em cena as duas performances – primeiro com Joubert Arrais e Gladis Tridapalli fazendo a criação conjunta Bicho samambaia, depois a vídeo dança Entre passagens, de Bruna Spoladore e Fausto de Oliveira Franco.

Flyer da performance

(A foto acima veio daqui)

Na composição de Joubert e Gladis, um jogo entre o dançarino com uma pedra (seixo de rio) na cabeça e a dançarina que posa no centro do palco como uma planta. Após a performance, tempo aberto para perguntas, e a certeza de que para todos ali presentes (alunos e professores do curso de dança, principalmente) uma criação desta natureza fez muito mais sentido que uma fala teórica.

Entre passagens reforçou a reflexão teórica de Renata Roel, que atribui ao olhar uma quase que segunda criação. Bruna Spoladore dançava, enquanto Fausto Franco filmava, mas nos dando a certeza de nesta obra a câmera também dança, construindo um olhar bastante sui generis que configurava realmente um processo criativo em dança.

O evento terminou com grande atraso, parte porque atrasamos para começar, parte porque o computador que serviria para projetar a vídeo dança precisou ser substituído. Mas principalmente, porque as discussões a partir das performances foram muito férteis, e porque este mediador de mesa tinha certeza de estarmos todos vivendo um momento único. Quem sabe não aprendemos de vez como fazer eventos de pesquisa em artes, e aproveitamos a sugestão de Gladis Tridapalli – fazermos um palco apropriado para performance, dando mais um passo para colocar a pesquisa como criação no espaço apropriado dentro dos setores acadêmicos de artes.

Seria um passo importante também num processo muito necessário de fazer as artes ganharem relevância no Brasil, um país que tem grande produção, para a qual o conjunto mais amplo da sociedade ainda dá pouco valor.