Umas questões sobre o futuro do jornalismo

Faz tempo que o futuro dos jornais e do jornalismo entrou em questão por conta da concorrência da internet como fonte de notícias.

(Isso é outro assunto, mas me ocorre agora – em épocas passadas os jornais impressos receberam concorrência de novas mídias como rádio (anos 1930) e TV (anos 1950) sem que tenha sido desastroso. Talvez o problema tenha sido muito pior no Brasil, pois muita gente começou a se informar pela TV, sem nunca ter passado pela notícia impressa.)

Mas o negócio é que com a internet os jornais impressos tradicionais entraram numa baita crise financeira, com redução de tiragem e de receitas – as revistas talvez tenho sido ainda mais afetadas. Parte do tráfego foi direcionada para as páginas dos próprios jornais na internet, embora praticamente todos tenham fracassado em tirar receita do tráfego pela internet (a publicidade online não decolou como se imaginava).

Diversos jornais fecharam, e outros estão achando jeitos de cobrar pela notícia, ganhando novo fôlego financeiro. A situação talvez seja bem pior nos Estados Unidos, pois no Brasil ainda há espaço para captação de novos leitores de jornal, coisa que lá já estava saturado faz décadas (como também na Europa).

Essa coisa toda vem muito bem discutida neste ótimo texto do norte-americano Dean Starkman, traduzido no portal Observatório da Imprensa:

Um novo consenso sobre o futuro do jornalismo

Algumas coisas ali são alentadoras, porque nós leitores fomos vítimas de uma terrível queda de qualidade do jornalismo na última década e meia. Isso em parte parece estar estancando, ou vem sendo revertido.

O grande problema continua com as notícias locais e a imprensa regional, como se pode ler neste interessante trecho:

As redações metropolitanas que já cobriram delegacias de polícia, escolas, autoridades fiscais e o poder em suas comunidades parecem ter sido atingidas por uma bomba de nêutrons; as mesas estão lá, mas as pessoas sumiram. Pautas importantes como o meio ambiente e a educação não têm cobertura alguma. Como disse um importante relatório das Comunicações Federais em 2011, “uma abundância de veículos jornalísticos não significa uma abundâncias de reportagens… Embora a tecnologia digital tenha dado poder a algumas pessoas de muitas maneiras, o declínio paralelo nas reportagens locais, em outros casos, tirou o poder dos cidadãos passando-o ao governo e a outras instituições poderosas que, mais frequentemente, organizam a pauta das notícias”. Amém.

Algumas coisas estão em vias de solução pelo tal “novo consenso” identificado no texto. Outras estão longe disso. No caso nosso aqui em Curitiba, a gente vive uma situação privilegiada de ter um jornal local que vem em ascensão na qualidade da apuração (desde o caso dos fantasmas da Assembléia Legislativa que, pra mim, significou um marco de ruptura com aquele jornalzão comprometido com as elites políticas locais para algo mais próximo da imprensa apurativa).

Mas se a gente olhar a situação em cidades grandes do interior e/ou polos regionais (pensemos em lugares como Londrina, Maringá ou Joinville – com coisa na ordem dos 500 mil habitantes) veremos que o negócio está bem feio – como sempre esteve no Brasil, na verdade. Um país sem jornais, sem leitores e sem imprensa séria. Não dá pra comparar aqui com nenhum lugar da Europa ou dos EUA.

Mas a falta de reportagens locais cobrando as coisas que deviam funcionar talvez explique em grande parte a má qualidade e a decadência dos políticos e das instituições políticas. Nisso estamos irmanados com europeus e norte-americanos. O problema é geral, e a falta de um jornalismo regional de qualidade explica a ascensão meteórica dos tiranetes de aldeia incompetentes, que é praticamente tudo que temos nos dias de hoje.

Pra resumir, precisamos de jornais decentes. Não vai dar pra confiar que tudo se resolve com facebook e twitter.


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